Em cada canto de Arataca, nas memórias de seus moradores e no coração de sua família, reside a história de uma mulher extraordinária: Aurélia Azevedo do Nascimento, carinhosamente conhecida por muitos como Tié. Sua vida, um verdadeiro testemunho de resiliência, dedicação e amor incondicional, é contada hoje através dos olhos e da alma de sua neta Wedja, que guarda cada lembrança como um tesouro.

Aurélia veio de uma família com raízes profundas na cultura do cacau. Em tempos onde o acesso à educação era um privilégio, ela, com uma determinação inabalável, dedicou-se aos estudos na área da saúde. Mesmo diante das dificuldades da época, o desejo de servir e cuidar do próximo a impulsionou.

A vida pessoal de Tié foi marcada pela força de uma mãe solo. Com sete filhos, um deles tragicamente faleceu aos dois anos e sete meses, ela criou os seis restantes com uma dignidade e um amor que desafiavam as convenções da época. Seus filhos cresceram em um lar onde o afeto e a boa índole eram os pilares, cada um seguindo seu caminho, mas sempre carregando os valores que ela tão arduamente lhes incutiu. Não apenas seus filhos, mas também oito de seus netos foram criados sob o teto acolhedor de sua casa. Além deles, uma menina que ela cuidou com muito amor, a Jessiquinha, e muitos "agregados" encontraram abrigo e carinho em seu lar, um porto seguro para todos que precisavam.

Profissionalmente, Aurélia foi uma enfermeira exemplar por 33 anos. Sua jornada começou após ser aprovada em um concurso, um feito notável que a levou a exercer sua função com uma paixão e um carinho inigualáveis. Sua neta narrou que, desde um ano e meio de idade, foi testemunha ocular dessa dedicação. Criada por ela quando sua mãe seguiu para o Rio de Janeiro em busca de sustento, a neta acompanhava a avó tié em seus plantões, dormindo na "salinha", enquanto Aurélia dedicava-se aos pacientes.

As memórias dos dias de vacinação nas "roças" são vívidas. Em cada comunidade rural, ela era recebidas com um calor humano que só a gratidão pode gerar. Comida quentinha e gestos de carinho eram oferecidos à enfermeira que levava saúde e esperança. Para muitos, Aurélia não era apenas uma enfermeira; era uma conselheira, uma solucionadora de problemas, a quem todos recorriam com a certeza de encontrar apoio e uma palavra amiga.

Um dos sonhos mais singelos e tocantes de Aurélia era poder assinar seu nome completo: Aurélia Azevedo do Nascimento. Ela só assinava "Aurélia", mas ansiava por mais. Um dia, sua neta comprou um caderno, e juntas, página após página, preencheram o cabeçalho com o nome inteiro. Com vergonha e timidez, ela voltou à escola, concluiu seu curso e, com uma alegria imensa, ligou para a neta para compartilhar a conquista. A segurança e o orgulho em sua voz eram a prova de um sonho realizado.

Sua vida foi de trabalho árduo e deslocamentos. Moraram em São João do Panelinha, de onde ela se deslocava para plantões de 24 horas em Arataca. Anos depois, decidiram retornar a Arataca, alugando casas, inclusive uma na Rua das Flores, palco de muitas histórias. Mas o maior sonho de Aurélia era comprar a primeira casa de seu pai, na Rua Maria SanGiovanni. Com a venda da casa em São João do Panelinha, ela realizou esse desejo, e hoje, essa propriedade é novamente da família, um símbolo concreto de sua perseverança.

Aurélia Azevedo do Nascimento, a Tié, deixou um legado que transcende sua profissão. Ela foi a mulher que, com amor e coragem, construiu uma família digna, cuidou de uma comunidade inteira e realizou seus próprios sonhos, provando que a força do espírito humano pode superar qualquer obstáculo. Sua memória vive na saudade de Arataca e no coração grato de todos que tiveram a honra de conhecê-lá.

ℹ️ Este conteúdo é resultado de uma pesquisa de histórias junto a familiares e amigos, realizada por nossa equipe.